Você está cansada.
Tudo se move devagar ao seu redor. A comida está sem sabor, o sono não faz descançar, a cor do céu não tem mais vida como antes e as pessoas te observam quando você passa.
Você senta num banco qualquer de uma praça... fica ouvindo os passáros cantarem e tentando também ficar feliz por estar viva ainda. Senhores e senhoras com expressões bem-humoradas passam por você e, com um meio sorriso, te dão aquele olhar de 'Tudo vai ficar bem se você aguentar firme mais um pouco'.
Você se apoia no encosto do tal banco, e levanta devagar para não cair. Para não cair de novo.
Você quer voltar pra casa. Quer e ao mesmo tempo não, mas volta. Senta, reflete, pensa em tudo que está jogando fora sendo assim... uma lágrima cai. Levanta, para diante do espelho, observa. Vê refletido um esboço nojento e mal definido - Outras lágrimas caem. Tenta esquecer. Pega livros, cadernos... Tenta ler, tenta estudar. Tenta parar de pensar, e fracassa. De novo.
Toma remédio. Abraça um travesseiro, deita-se, e reza para que eles façam efeito. Pensa na sua família, nos seus amigos, nos momentos bons que passou ao lado deles. E se, um dia, vai voltar a ter tudo isso novamente.
Lembra-se de que o dia está quase no fim e você ainda não comeu nada hoje. E nem ontem. Se esforça para se importar com isso, mas não consegue, porque você está cansada.
Cansada de esperar, de aguentar, de ter esperanças, de rezar, de pensar, de tentar, de cair, de levantar, de cair de novo, cansada do espelho, da sua cama, dos seus remédios, do seu fracasso, do medo, da insônia, da solidão, do conformismo, do gosto amargo de suas lágrimas e da falta da existência de um abraço que faça tudo doer menos por mais que alguns poucos minutos.