É engraçado as voltas que a
vida nos dá. Hoje o dia foi peculiarmente difícil e decidi termina-lo tomando
algumas cervejas. Estou no último ano de Psicologia, finalmente. Já entrei em
contato com coisas densas com as quais não me senti bem, mas nunca como hoje. Os
estágios desse ano acabaram me deixando encarregada de quatro pacientes, que
conhecerei semana que vem. Hoje fui ler os prontuários para não chegar perdida
e, de repente, me vi diante de mim mesma aos 12, 13 anos.
Havia tempo que não pensava em
mim. Os dias são corridos e não costuma sobrar tempo vago para pensar em como
estou. Por vezes me sinto gorda, infeliz, o de praxe, mas as orientações sempre
seguem as mesmas: o mundo pode estar desabando, você deve deixar isso lá fora e
ser profissional.
Quando a cabeça começa a doer
de fome é bem mais fácil comer qualquer coisa do que arrumar um problema maior.
Não há tempo para problemas
maiores.
Aconteceu uma reunião do
trabalho hoje e tomei uma bronca que sei que não é minha. Já estava irritada e
falei tudo o que tinha vontade. Fiquei com raiva, mas nada de mais, passou.
Deitei esperando dormir rápido e começaram a virem algumas falas da discussão
do trabalho de hoje e, não sei, senti vontade de me cortar.
Estava deitada no escuro quase
adormecendo e senti meus olhos arregalarem. Há quanto tempo não penso nisso? Nem
tenho mais o kit de gilettes e paninho sujo de sangue.
Assim que pensei melhor, senti
vontade de vir aqui. Sempre penso, mas hoje, em especial, tentei traçar uma
linha paralela com a vontade de me cortar e o motivo desencadeador. Nada me
pareceu claro, mas talvez, amanhã, quando as cervejas houverem desaparecido da
corrente sanguínea, faça algum sentido.
Saudades imensas daqui. Não importa
onde, nem com quem, o discurso nunca fluirá como num texto desconexo e
aleatório.
7 comentários:
Trabalhar com psicologia é pesado, acho até mais do que psiquiatria, dependendo do tipo de psiquiatra (prescrever e não se envolver no mimimi é fácil).
É um humano terapeuta, um humano com defeitos e feridas também. E a coisa fica confusa porque o ponto de comparação, a "normalidade", teoricamente é você e o que você conhece, aí chega uma pessoa enfrentando problemas semelhantes aos teus. Se suas cicatrizes não estiverem muito bem fechadas, vai doer. Vai remexer sentimentos, pode reavivar coisas. Até por isso, pra lidar com esses casos que desestabilizam seu emocional, acho essencial todos terapeutas também fazerem tratamento com alguém mais experiente, tipo naquele seriado da HBO "In Treatment" haha...
Depois me conta se você esclareceu a vontade de se cortar.
Adoro seus textos, e concordo com você que o discurso flui muito melhor em texto do que com pessoas e palavras.
Saudade.
Depois escreva sobre seus pacientes e o seu trabalho,quero muito ler.
É realmente engraçado como nossa vida segue em frente, apesar das dificuldades. Sempre tive demasiados problemas na infância e adolescência, me cortava, tinha paranoias com peso e alimentação, possuía dificuldade em fazer amigos fora do mundo virtual e sempre me achei muito estranha. Atualmente estou no último período de Direito e com milhares de coisas para me ocupar, as vezes não dá nem tempo de deitar e pensar em tudo que já me ocorreu. Entretanto, de vez em quanto olho para meus pulsos e as cicatrizes não somem, estranho pensar como uma besteira de minutos como refletir em toda nossa vida, afinal não posso evitar como fico constrangida e triste quando colegas me perguntam qual o motivo de tais cicatrizes... Mas bola pra frente, agora é uma nova etapa e, enfim, desejo-lhe sorte e sucesso na vida profissional. Já falamos há alguns anos atrás, mas perdemos o contato, não sei se lembra de mim ainda. Abraços.
Att,
Bárbara B.
<3
Está melhor, né? :)
Espero que você volte e nos dê notícias. Sinto falta de tuas postagens.
Ola!
Como você está atualmente!
Quando puder nos dar notícias nos fale, retorne aqui.
Abraços.
Lia*
Postar um comentário