quinta-feira, 5 de março de 2015

Wrong

Ontem, cheguei da faculdade com uma fome devastadora e fui direto à cozinha procurar por algo. Certa e convicta de que me odiaria depois, peguei um pão gigante e fiz um sanduíche. Peguei mais alguns sonhos, doces e refrigerante e me sentei à mesa.
Sabem, desde sempre, sinto muita vergonha destes momentos, em que como, como se não houvesse amanhã – mas há! –, e fico tentando imaginar a cena, como uma terceira pessoa. Deu-me um estalo e resolvi, então, me filmar comendo para assistir depois e, quem sabe, ver o quão ridículo e porco era aquilo e que não deveria ser repetido.
Foram dez minutos. Comi uma quantia absurda em apenas dez minutos! Dando mordidas enormes, sem mastigar muito, misturando doce com salgado, tomando refrigerante porque estava difícil de engolir, mas havia uma necessidade de ingerir tudo aquilo a qualquer custo. Meus braços estavam bem mais magros do que imaginei.
Às vezes, acabo ficando sem referencial da minha imagem corporal. Em tempos assim, de tamanha instabilidade, acabo por não me reconhecer de forma nenhuma. Não faço a mínima ideia de como meu corpo está. E isso é agoniante!
Não consigo parar de pensar em planejar uma dieta, estabelecer metas e tudo mais que faça com que eu emagreça. Embora, ao mesmo tempo, penso no ato de comer como um ato autodestrutivo. Não sei explicar muito bem, mas ultimamente tenho tido um sentimento semelhante à raiva quando como. E eu como grandes quantidades, enquanto minha cabeça martela coisas do tipo: “Idiota, coma toda a comida do planeta! Você merece se sentir um lixo mesmo!”. Ao mesmo tempo em que quero não comer nunca mais – e definhar até a morte –, eu também quero comer como se isso fosse uma punição, como os antigos cortes.
Como que seguindo um roteiro predeterminado a caminho de algo catastrófico, minha vida parece traçar caminhos em busca de seu próprio fim. Eu pareço estar sendo obrigada a seguir um roteiro rumo a uma explosão imensa que destruirá tudo. Não importa se estou lutando contra o fluxo com todas as minhas forças, o vento sempre soprará para a mesma velha direção de sempre. Parece haver duas forças opostas travando um duelo dentro de mim e, às vezes, não sou capaz de reconhecer qual delas é a minha de verdade.
Este ano começo a desenvolver o TCC final do meu curso. Revirei tudo em busca de ideias geniais, mas nada parecia bom o bastante (Oh, really?!). Ainda tenho certa dificuldade e pânico de falar sobre transtornos alimentares e seus nomes, mesmo agora, que levo uma vida quase normal e não fico mais perambulando caindo de fome pelos cantos. Porém, sempre gostei muito de ler sobre tudo isso, e gostaria de poder aproveitar de alguma forma a minha história. Ainda não decidi totalmente, mas estou pensando em falar sobre obesidade e sobre os diversos significados para as pessoas quanto ao ato de comer. Não tenho esperanças de encontrar cura estudando, apenas quero pensar sobre as tantas razões que levaram (e levam) nós e outras tantas, com histórias por vezes tão distintas, a procurar uma saída semelhante. Eu sei que não é por bullying na infância. Eu sei que não é por abusos, abandono ou perdas. E muito menos pelas modelos magras das revistas e TV. Quero aliviar um pouco minha mente de sempre remoer o mesmo pensamento: “Não é possível! Você era o modelo de criança que daria certo no futuro. Sua infância foi ideal, seus pais foram ideais, uma vida digna de ser invejada. Por que diabos tudo acabou dando tão errado com você?”. 

5 comentários:

Viviana Ruiz disse...

Acho que seria um tema muito interessante de TCC, ainda mais por que sacia a nossa própria curiosidade.
Nossa, nunca pensei em gravar enquanto comia... acho que devo me assustar.

Drella disse...

Acho ótimo material pra quebrar o blá blá blá padrões da mídia me fizeram querer emagrecer e hoje sou anoréxica. Até porque só tem uma ou outra anoréxica na mídia e o nosso padrão é muito mais imc 22 ou até mais que isso sendo malhada e "gostosa". Agora isso prum obeso pode motivar a emagrecer visto que além do Faustão e o Jô Soares n tem mais nenhum obeso na Globo p exemplo e eles não são pessoas desejadas pelo corpo. :P
Interessante a ideia de se filmar.

Marcy! disse...

Transtornos alimentares são sempre um tema "interessante" para estudo e pesquisa, porque tem várias ramificações... como tu mesma disse, não é só por isso ou por aquilo.

Psicologia, hoje, pra mim, parece uma área interessante de se estudar, pelo fato de ter a oportunidade de ajudar pessoas.

"Parece haver duas forças opostas travando um duelo dentro de mim e, às vezes, não sou capaz de reconhecer qual delas é a minha de verdade."

Sabe, eu já nem sei quem sou.

Drella disse...

mande noticias T-T sou avida pra saber da vida das minhas queridas amigas anonimas! (nao quero saber da vida chata das amigas reais rs)

Crystal Fairy disse...

compulsão é a maior loucura aqui dentro, existem momentos que parece que temos necessidade de fazer isso. se fizermos sabemos que vamos nos sentir um lixo depois, mas se não fizermos bate aquela inquietação sinistra super difícil de controlar.
desrealização corporal é outra loucura, é horrível mudar de tamanho tantas vezes assim.
nossas vidas, é fato, uma hora vai ter fim, a morte é uma certeza... mas se estamos vivas deveríamos tentar viver da melhor forma possível, seja mais forte do que essas forças que têm te sugado de forma tao negativa, sei que é difícil, pois as vezes não sabemos de outras formas de se viver, mas que elas existem, existem sim.
eu estou no meu terceiro semestre na facul e já fico pensando no tcc rs a ideia que mais tem se feito presente é tb o TA, pq eu sou indignada com algumas formas de como ele é tratado.
fique bem, beijos :*